PESSOAS MAIS DO QUE ESPECIAIS...

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27 de fev. de 2012

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TÔ BÃO NÃO
(cê nem imagina o por quê...)


O Brasil é um caldeirão cultural.
Mas parece que no caldeirão de Minas algum ingrediente diferente ferve nessa sopa...
É algo meio nostálgico, algo poético seja na forma de viver ou na musicalidade do falar.
A religiosidade? Marcante.
O jeito de fazer política? Manhoso...
As mineiras? (*)...
          (*) Nossa Senhora Aparecida do Perpétuo Socorro

Ouvi-las com aquele sotaque é algo tão gostoso, tão acalentador...  e elas são lindas, ahh... como são! (Sra. Abranches que não leia isso...).
Alguma delas chegasse ao meu ouvido e “cantasse” pedindo para assinar um documento, assinaria mesmo sem ler. Assinaria até escritura e ainda perguntaria se era “só isso!?” (e que ela também não leia isso, principalmente...)
Passei 2/3 da minha vida morando fora das minhas Minas Gerais; percebo hoje o quanto perdi do traquejo de ser mineiro; perdi a embocadura e a elegância de falar assim, meio cantado. Confesso a você que às vezes não entendo quase nada do que falam.
Tenho como vizinhos dois jovens casais. São pessoas espetaculares, de uma simplicidade impar. É uma delícia “prusiá q’uêles”. Às vezes, quando não estou entendendo o que estão conversando, procuro então seguir o ritmo da expressão facial. Se riem, rio. Se fazem cara de preocupação, também faço mesmo sem entender o real motivo.
Já tinha ouvido falar que o WINZIP foi inventado pelos mineiros. Se pairavam dúvidas quanto a isso, hoje tenho certeza. Conseguem reduzir ao mínimo uma expressão deixando-a sincopada para ser falada ou escrita. Um exemplo.

ARQUIVO COMPACTADO:
_ Cê ké kafé?
_ Ô...
_ Pó pô pó?
_ Pó pô...
_ Pó pô pão?
_ Só pokim.
_ Ópôcevê, cafônkotô... nó!
_ Ô fí, pédi pá pô pôkim só.

Agora o ARQUIVO DESCOMPACTADO:
_ Você quer café?
_ Quero.
_ Posso colocar pó?
_ Sim, pode por.
_ Posso por pão?
_ Sim pode, só um pouquinho.
_ Olha para você ver, com a fome que estou... Nossa Senhora Aparecida do Perpétuo Socorro!
_ Meu filho, peça para colocar somente um pouquinho.

Não bastasse somente isso, por aqui algumas coisas tambem são conhecidas por nomes diferentes. Exemplos disso é que “Polícia” aqui é chamada de “Uzômi”. Quando querem dizer “afasta daqui” dizem “arréda”.  E por aqui eles não sentem “agonia”, sentem “gastura”, assim como também não comem “pão frances” e não param no “semáforo”, comem “pão de sal” e param  no “sinal”. Mineiro não pergunta “como é que você vai”, pergunta “cuméquicetá”...
Essa é a terra onde a “tangerina” é conhecida por “mixirica”, andar na “calçada” é andar no “passeio” e onde “bicicleta” é “cabrita” ou “cabrinha”.
Muitos sobem na cabrita e saem pedalando...
E falando em bicicleta, comprei uma cabrita.
É sério.
Lindona...  “vermelhona”, com campainha, sinalização noturna na dianteira, na traseira, na lateral e nos pedais.  Veio também com retrovisor do lado esquerdo. Uma beleza! Era quase uma Ferrari de duas rodas. Coisdilôco.
Mas você deve estar pensando: “O que tem de errado em comprar uma bicicleta cabrita?”
Realmente não tem nada de mais, não fosse o fato de que eu não sei andar de cabrita.
Mas essa historia deixarei para numa outra oportunidade.
Adispoisconto.
Melhor falarmos sobre artesanato: decoupage, cerâmica, patchwork, biscuit, scrap, feltro, ponto cruz (que a Sra. Abranches tá craque, fazendo trabalhos lindos), falarmos sobre E.V.A... essas coisinhas menos perigosas. Tábão?
...
Hãn?
O que?
Cê quer saber logo dessa história?
Tabão, eu conto.
Isso foi numa segunda feira... (ihhhhhhhhhhh). TÔ BÃO NÃO.
Deveria ter permanecido na cama o dintêrim (como comumente faço nesses dias) mas, como estava sem sono, acabei madrugando naquele trágico dia. Deveriam ser umas 2:45h mais ou menos...     ...da tarde. TÔ BÃO NÃO.
Não, porque naquele dia biltre, dia mandureba, sicofanta, desfaçatoso, chulé, chinfrim, pangaré, arraiamiúda, ignóbil, impudico, arrebitado, nigromante... (hummm.... deixe-me pensar em mais alguma coisa) ...dia acatruzo, ancípite, ozostômico, jenebereba (essa eu que inventei... gostei da fonética), dia de panelaço de chuchu “salgado” com catchup e creme de leite (eca!) ou um dia miojo de limão, realmente o que eu deveria ter feito era ter permanecido na cama para deixá-lo o mais curto possível e o mais próximo da belíssima terça feira que não tardava a raiar. Mas não... TÔ BÃO NÃO.
Olha, você sente que um dia é um dia ruim quando percebe que o sol nasceu no oeste, ou então quando pula da cama e erra o chão. Pois naquele dia, ao invés de ouvir os passarinhos cantando lá fora, ouvi foi um grugrulhar de um urubu...  enquanto que eu tentava escapar do bichinho de pelúcia da Sra. Abranches  pois ele queria me morder. Coisdilôco... coisas de segunda feira.
Num dia como esse, se você pensar em fazer alguma coisa que seja “boa” – como foi a minha brilhante idéia em ter uma cabritinha dentro de casa – isso acaba não acontecendo. Mas se a coisa é ruim, acontece.
Avisei a Sra. Abranches da minha intenção, explicando que ter uma bicicleta seria bom e mais fácil para que eu pudesse me deslocar.
_ É... é isso mêsss.... cê vai se descolocar todim quando levar o primeiro tombo. Hômiducéu, largadisso. Prenunciou ela num mau agouro e num sotoque de quem está querendo entrar nos limites de Minas Gerais.
_ No Superômi nada desloca. Falei, dando-lhe as costas e partindo para minha missão de laçar uma cabrita.
Mateus estava eufórico! Ouvia toda a discussão conversa e chegando até a pedir para que lhe trouxesse um "fióti" da cabrita, um cabritim.
Então fui lá... direto para a “Loja Cem” (deveria ganhar um cachezinho por citar o nome da loja...) onde uma vendedora magnífica... mineira de raiz... dos olhos igualizinhos aos da minha linda amiga Ana (nunca sei se são verde-azulados ou azul-esverdeados, algo que sempre me deixa na dúvida, mas que são encantadores, são!).
Mas a sorridente vendedora me abordou com um cantadim melodioso, quase num sussuro, mais ou menos assim: “Pô’não... quicêqué”. Uma abordagem perfeita! Treinamento das Lojas CEM. Nesse momento me pareceu que a labirintite tinha atacado, pois fiquei tôntim.
_ Queria ver uma bicicleta. Falei de forma desajeitada.
_ Ah.. cêqué muntá numa cabrita? (Na verdade ela não falou “muntá”, usou uma outra palavra que prefiro não escrever. Mas foi bastante profissional na abordáge.)
_ .... é. Respondi, parecendo o amigo do Zorro: o “Tonto”.
_ Vêncá... mostráprocê us modelo, uai... tem cada cabritinha bunita...!
E lá fui eu sendo arrastado pela Jafalei (esse era o seu lindo nome, li no crachá que usava).
_ Aquí ó... pódiscoiê. Falou a Jafalei me apontando bicicletas de várias cores.
Eram amarelas, azuis, vermelhas, cromadas, rosinhas, outras de cores estranhas... havia uma que parecia um tanque do exército, toda camuflada e tinha até um radio comunicador (eu, hein...!!!).
Para quebrar o gelo (não... não tinha nenhuma cor “gelo”, falei no sentido de “descontrair” mas para descontrair a mim mesmo que sentia meio troncho, meio torto e mal-acabado). Perguntei se era preciso ter CNH-C para andar com a cabrita.
Ela meio que fechou aqueles zoím bunitu, esboçou um sorriso encantador onde então percebi que tinha um dente colorido, e me perguntou:
_ Cêeneagá cê? (risos)... Quiquéisso? Jafalei falou.
O tonto aqui explicou que seria tipo uma autorização para conduzir a cabrita, uma Carteira Nacional de Habilitação de Cabrita.
Minina... quando falei isso, queria que o chão se abrisse sob os meus pés para que eu pudesse sumir, tal julguei o quanto foi de mal gosto a piada. Mas ela adorou... ahhhh, riu dimaisdaconta e num volume tão alto que alguns clientes e funcionários, que estavam próximos, voltaram os olhos em nossa direção para ver o que é que eu estava fazendo com a Jafalei. TÔ BÃO NÃO, coisdilôco!
Papo vai... papo vem... peguei o telefone dela para caso houvesse algum probrema no funcionamento da cabrita... questões de garantia... essas coisas, claro!
Escolhi a vermêia, a tal que falei que mais parecia uma Ferrari. TÔ BÃO NÃO.
_ Cê qué qui os rapáiz intrega onde? Cantou a Jafal... a moça.
_ Pricisa não... arremedei eu, tentando parecer um minêrim dusbão. Eu vou sair muntado nela. Completei.
Minina, aí é que vem o pobrema.
Nunca tinha muntado numa cabrita e eu dando uma de quem era um grande ciclista ou um bicicleiteiro (sei lá) habilidoso a ponto de sair pedalando da loja até a minha casa.
Olha, a pé eu gastei exatos 15min da minha casa até a Jafalei. Imaginei que, de volta com a cabritinha, gastaria uns 5min. Deslocamento fácil...
Tudo acertado, agarrado na cabrita em cima do “passeio” e a Jafalei ali... olhando.
Dei um “tchau” para ela imaginando que ela fosse embora atender algum outro cliente, mas ela ficou ali... parada... esperando eu montar no animal (sei não... acho que rolou alguma coisa... e que a Sra. Abranches “pelamordedeus” não leia isso).
Encostei no meio fio, olhei pr’um lado... olhei pr’u outro... analisei bem o esquema onde deveria colocar o primeiro pé... E a Jafalei só oiâno.
Quando eu debrucei a perna por cima da cabritinha ela refugou de um jeito me fez ir parar do outro lado, nos pés da Jafalei, que imediatamente procurou me acudir.
A campainha da bicicleta, quando roçou no chão, fez um barulho que parecia ao de um balido... coisa muito estranha.
_ Machucô? Cê ta bão?
Quase que respondi para ela: TÔ BÃO NÃO... mas dei uma sacudidela na calça, como  se fosse tirar a poeira, quando na verdade queria era saber se o joelho estava no mesmo lugar ou o quanto ele havia se deslocado...
_ Foi nada não... Acredito que tenha sido isso que respondi pois estava mais tonto do que o Tonto com labirintite.
_ O pé escapuliu do meio fio... justifiquei eu.
Ela, com aqueles olhos de Ana prosa, sorriu-me um sorriso largo e foi onde percebi que na verdade eram dois dentes coloridos.
Algumas pessoas pararam para ver o que estava acontecendo. Teve um gurizinho safado que falou assim:
_ Mãe... mãe... olha... não é o hômi caixa? Do carnaval?
Minina... queria morrer!
Grudei nas orelhas da cabrita e saí andando com ela de lado. Fui empurrando até sair do campo de visão da fofinha da Jafalei, isso sem contar das vezes em que o pedal bateu na minha canela, pois à medida que ia andando aquele trem ia dando voltas igual a uma manivela e, a cada volta, era uma batida na canela... Coisdilôco, TÔ BÃO NÃO.
Eu ainda escutava: “é ele sim... é ele sim, mãe...”, quando consegui virar numa esquina.
Olhei com raiva para minha Ferrari e pensei: “É agora que te pego!!”
Como quase todas as ruas de Cambuí, essa também era de descida. Estacionei a bendita Ferrari no meio fio, afundei o chapéu um pouco mais no cocuruto para que ele não saísse voando e fiz nova tentativa de trepar no bicho.
Grudei nos chifres dela e lancei uma perna por cima do seu lombo.
Naquele exato momento Cambuí parecia que estava sendo acometida por um terremoto, pois a cabrita zanzava prá cá... zanzava prá lá... e eu ali, tentando dominá-la, “garrádu” nos chifres (guidão)... onde parecia que a terra era quem tremia e me jogava de um lado para o outro.
Tentei fazer o movimento de “pedalar”, mas parece que ela percebeu a minha intenção e começou a pegar velocidade e aí eu comecei a ficar preocupado.
Procurei desesperado onde era o pedal do freio, mas não achei nada... e a cabrita ia embalando, ganhando velocidade... TÔ BÃO NÃO.
Mais à frente percebi um perigo eminente. Um cachorro observava eu e a cabrita com olhos e posição de ataque. Comecei a escutar um “zummmm...  zummmmm....” do vento querendo me rrancá o chapéu da careca. E o cachorro ia ficando maior...
Olha, eu chamei por todos os Santos que consegui lembrar o nome... roguei até para aqueles que por um acaso estivessem descansando ou de férias para que me ajudassem a parar aquele trem.
Quando o cachorro já estava numa distancia em que consegui visualizar e dimensionar o tamanho dos seus caninos, pensei: “É agora...”. Dei um puxão tão forte na orelha esquerda da cabritinha que minha mão chegou a roçar na campainha e dessa vez tive certeza de que ouvi um “Béééééééé....”.
Vou te dizer uma coisa e juro por tudo que foi santo que clamei: olhei prá frente e só vi o córrego Cambuí se tornando maior, quase um rio... e pensei comigo: tô n’água!
De repente só ouvi um barulhão.
Foi um farfalhar de folhas, misturadas com berro de cabrita e uns sons metálicos que, quando finalmente tudo se quietou, me vi socado numa touceira de um dos arbustos que a prefeitura tinha mandado plantar entre o calçamento e o córrego Cambuí (aqui eles chamam este arbusto de cesta de ouro, pois é repleto de flores amarelas).
Acredito que fui socorrido por um dos Santos dos que gritei, mas não sei a qual deles agradecer... mas acredito que ele também não sabia onde ficava o freio da bicicleta, foi quando então colocou na minha frente a cesta de ouro para “amortecer” minha queda.
Olhei de lado e consegui ver a cabrita um pouco à frente... agonizando... Alguns veículos que por ali passaram buzinaram e alguns motoristas riam... (que vergonha!).
Gesticulei com o dedim... assim ó (cê entende!?). Levantei dali mais parecendo um jarro de flor, pois estava entupido de cestinhas de ouro até no nariz.
Dor eu só não sentia nas orelhas, o resto do corpo, Nó...!
Levantei a agonizante cabrita e fui arrastando-a até minha casa. O para lama da frente parecia um “S” e a cada meia volta de roda, eu ouvia um agonizante “chop! tchap! clang! blém... blém”!
A pé eu gastei, da minha casa até a loja, 15 min..
Na volta eu conseguí fazer com 43,5min...

Cheguei em casa como um lindo vaso de flor, sem chapéu, todo suado e dolorido. Fui entrando pela sala e passei direto pela Sra. Abranches, pelo meu filho Mateus e pela minha sogrinha preferida, indo direto para o quarto sem falar nada.
Sra. Abranches até que ameaçou dizer ou perguntar alguma coisa, mas eu só fiz um gesto com a mão indicando para que não dissesse nada...
Lá do quarto eu ainda consegui ouvir o Mateus falar
_ Mas mãe... o pai comprou uma bicicleta usada, foi???
TÔ BÃO NÃO.

Continuarei andando a pé, mas permaneço vivo.


Grande beijo para você e uma semaninha de muitas alegrias e paz no seu coração.
õ[õ  Jota-A

    



23 de fev. de 2012

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TREM BÃO É SER VÉIO.



O texto abaixo recebi de um grandioso amigo, através de e-mail.
Não cita a autoria... apenas repasso, com uma ou outra correção, me colocando nessa condição fisiológica, onde fiquei com preguiça de ser jovem (hehehehe). Abaixo o texto.


"Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco (no meu caso, mais cabelo) ou uma barriga mais lisa.  Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo.  Eu me tornei meu próprio amigo .. 
Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer não fazer a barba todos os dias, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até altas horas e dormir até meio-dia? Ou me recusar a "encarar" as segundas feiras?  Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70, e se eu, ao mesmo tempo,  desejar chorar por um amor perdido...  chorarei.


Vou andar na praia em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros.

Eles, também, vão envelhecer.


Eu sei que eu sou às vezes esquecido.  Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.


Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. 
Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro?  Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão.  Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de um "ser" imperfeito que somos.


Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, (ou não tê-los mais) e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos do meu rosto.


Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virassem prata (ou, como no meu caso, despencassem de vez)

Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo.  
Você se preocupa menos com o que os outros pensam.  
Eu não me questiono mais. Ganhei o direito de estar errado.


Assim, se você me perguntar, responderei que sim, gosto de ser velho.
A velhice me libertou e gosto muito da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será.  E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).


Que nossa amizade nunca se separe, porque é direto do coração!
E se essa tragédia acontecer, aí sim, eu envelheço e morro...

Grande beijo no seu coração.
ô[õ  Jota-A

21 de fev. de 2012

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PORTA BIJÚ


Tempo que não fazia este tipo de peça.
Resolvi quebrar o jejum e fiz estes 3 modelinhos.
A de "oncinha" fiz E.V.A. com revestimento de tecido.





BOLSA SOCIAL + PORTA NÍQUEL
(uma combinação de E.V.A. e ETAMINE)
Outro modelo que consta da revista que ganhei da amiga Lívia.
(Lívia... beijo doce procê e obrigado sempre)
Fiz os botões com juta.
Gostou? Comente...

20 de fev. de 2012



TÔ BÃO NÃO...

... e nem poderia estar (56ª edição)


Cambuí. Você ainda me verá escrevendo muito sobre Cambuí.
Acontece que ainda estou desbravando esta terra, me sentindo como um verdadeiro “Bandeirante”. Tal quais aqueles que atravessaram a Serra da Mantiqueira em busca de pedras preciosas, também tenho garimpado minhas pepitas nesta terra. São elas os personagens pitorescos;  a vista de um pedaço deslumbrante da serra;  o casal de maritacas que resolveu sublocar o telhado da minha casa e agora alimentam 3 filhotes; a cordialidade do “bom dia”, do “boa tarde” e do “boa noite” que recebo toda vez que cruzo com alguém na rua, enfim, pequenas preciosidades que tanto me faltavam e ansiava tê-las.
Uma das atrações que chama a atenção de muitos turistas é o carnaval. Por aqui há desfiles de blocos de rua, escolas de samba e carro de som estacionado na praça central. Uma “loucura”!
Mas antes que de fato a loucura aconteça, Cambuí dá o seu “Grito de Carnaval” dias antes do sanatório geral.
Numa dessas, Sra. Abranches viu o cartaz na rua. Parou para ler.
Observei-a e vi que a atenção que ela dava ao cartaz, ia além da conta. Como um bom Bandeirante, senti perigo na floresta...
Uma revoada de escandalosos periquitos me veio como um mau presságio... meus cabelos eriçaram (os do braço, claro...).
_ Bem que poderíamos ir nesse Grito de Carnaval... Falou ela despretensiosamente num tom perscrutador. Falou como se estivesse pintando as unhas. 
Não. Berrei eu...
Mas ômi, é bom pra’ gente se socializar, conhecer pessoas...  Choramingou ela
Não. Repeti eu, porém num tom menos firme.
Ahhhhhh... vâmo. Faz isso não meu folião preferido... vâmo!  Sussurou ela como se movesse uma peça do tabuleiro para dar-me o cheque mate ou o tiro de misericórdia.
Nnnn.. não... Mas esse “não” saiu mais suave do que gostaria.
Olha, se você for eu...  Ihhh... lá vinha a chantagem. Mas antes que ela revelasse a promessa da vez e também porque - como um bom bandeirante - percebi que algumas pessoas já observavam o duelo verbal, cedi.
Tabão. Mas cedi com uma voz firme... voz de autoridade. Comigo é assim...
Mas algo dentro de mim soava como uma sirene de alerta. TÔ BÃO NÃO.
Já que a corda estava no pescoço e antes que o ar me faltasse, resolvi por um acaso perguntar ao carrasco “o dia” que ocorreria o tal do “grito” carnavalesco.
Bom, deixe-me aqui fazer uma paradinha para que a minha respiração volte ao normal (só de lembrar me acode a taquicardia...) e enquanto isso dando-lhe tempo para tentar adivinhar o miserável “dia” que ocorreria o tal Grito de Carnaval de Cambuí...  Em duas tentativas.
Adivinhou?
Pois é... TÔ BÃO NÃO!
Olha, cê já ouviu falar de Murphy? Das Leis de Murphy? Na verdade o nome completo do cabôco era Edward A. Murphy. Engenheiro aeroespacial norte-americano e responsável pelo resultado de testes em sensores de equipamentos da NASA. Esse sujeito otimista afirmava que “se alguma coisa podia dar errado, daria”. Bom, plagiando o otimismo de Murphy, digo que se algo pode dar errado, dará. Mas dará da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível se isso for numa segunda feira. TÔ BÃO NÃO. Sei disso.Esse dia é um dia tão... tão... tão miserento (miserável + lazarento), tão assobregético e camalioso que me milatina as congitivas abserviáceas para enoblefar as protuberâncias dos acarinídios incubercitosos no encaldeamento das efervecências que catilinam as mesocerbáceas. Sim, é isso as seg... feiras. TÔ BÃO NÃO.
Uma vez dada (e aceita) a sentença, a carrasca disse que precisava pensar na fantasia.
_ Fantasia???!!! Falei com voz trêmula, já nada parecido com um Bandeirante destemido...
_ É, uai... No cartaz diz que fantasia é “traje” obrigatório.
Se antes a minha sirene interna já soava alto, agora era um escarcéu. Um som de tsunami somado ao de uma avalanche estourava dentro de mim. ALERTA... TÔ BÃO NÃO.
_ Mas muié, que fantasia? Nunca usei fantasia... a única coisa que tenho e que “beira” a uma fantasia,  é o meu pijaminha... aquele do Superômi...
Pelamordedeus... não fale nesse pijaminha! Rosnou ela como uma guerreira Purí – antigos  habitantes da Serra da Mantiqueira – como se estivesse a acuar um bravo Bandeirante.
Sabe, vou te contar uma coisa: ela não gosta do meu pijama. Aliás, ela detesta o meu pijama. Acho que enjoou dele. Talvez porque eu o uso desde que ganhei. Foi no natal de 84 (ou será que foi em 85?), junto com o tapa olhos. Ou então deva ser porque eu visto a cueca vermelha por cima dele... não sei. Mas que é igualzim ao Superômi, ahhh... isso é. Meus filhos – quando pequenos - adoravam ver-me preparando para dormir. Só que, ao invés de entrar numa cabine telefônica para “a transformação”, como fazia o meu sósia Clark Kent, eu entrava era dentro do guarda roupa (quebrei-o umas 6 vezes por conta disso) e tcham... tcham... tcham... tchaaaammmmm... saía de lá o Superômi, com muita carne e pouco osso para orgulho e alegria da meninada. Às vezes me chamavam para dormir às 17:00h só para verem o super herói entrar em ação mais cedo. (suspiros de saudade...).
Bom, mas tão logo eu enxugue essa lágrima que teima cair, continuarei com essa verídica historia de grito, berro ou clamor, sei lá... do Carnaval de Cambuí.
Então... mas a guerreira Pruí Abranches bateu pé:
_ Sem fantasia o “senhor” não vai...
Olha, vou dizer uma coisa a você; quando a minha doce, gentil e meiga muié me chama de “senhor”, melhor abaixar as armas.
_ TABÃO. Respondi somente para contentá-la, muito embora a minha resposta foi num tom bastante severo. TÔ BÃO NÃO. Comigo é assim.
_ Mas a “Madame (dei o troco), quer que eu me fantasie de que então? Não tenho fantasia e nunca tive fantasia alguma. Aliás, só tive fantasia com a Angelina Jolie... mas isso foi só uma vez e já faz muito tempo (tentei corrigir o estrago...). E tem outra coisa: em casa, com toda aquela confusão de mudança, só tem caixas (malditas caixas!).
_ Pois então a sua fantasia vai ser de CAIXA. Será “O Homem Caixa”!.
Olha, se você estiver rindo, por favor, pare com isso e respeite minha dor! TÔ BÃO NÃO e a coisa é muito séria.
Não sei se essa idéia de índio (de índio Purí   kkkkkk) do “homem-caixa” foi só porque era a única coisa que tinha em excesso em casa, ou se foi por causa da revelação da fantasia com a Angelina Jolie (suspiro).
Fiquei um tempão sem falar com ela...
Passados então os 25min, perguntei-lhe o que na verdade queria dizer com “Homem Caixa”.
A essa altura do campeonato, Mateus começava a se interessar pela discussão, ao passo que o “cão” Nick e o meu felino afônico Mimo, saíram sorrateiros... (esses bichinhos têm uma sensibilidade extraordinária epercebem com antecedência o perigo).
Se este alarido, berro ou grito de carnaval ocorresse numa terça... quarta... ou qualquer outro dia da semana, tudo bem! Acredito que eu ia até ficar meio animadinho...Mas nós estamos falando de um evento numa s#@'*∞N  fLMDý... TÔ BAO NÃO.
Eu tinha absoluta certeza de que se existissem 4 maneiras de acontecer alguma coisa errada e, mesmo eu conseguindo resolver os 4 problemas, uma quinta situação catastrófica surgiria do nada. Daí apareceria uma 6ª... uma 7ª...  porque desgraça para acontecer num dia lazarento como é a   s#@'*∞N  fLMDý , nunca vem só, sempre ocorre em série. TÔ BÃO NÃO.
_ Mateus, pega lápis e papel. Vamos fazer um desenho de como será a fantasia do Homem Caixa. Ordenou ela com os olhos brilhando, como se acabasse de ter uma visão mística.
Enquanto Mateus saía todo serelepe, a zueira da sirene escandalizava dentro de mim.
_ Pai, vô desenhá uma armadura de caixa procê. Vai ficá massa... muito sem sal. Disse ele.
_ Precisa não, fí... basta rasgá um pedacim de papelão e pregá na minha testa que tabão. Respondí com voz doce, bem açucarada.
_ Nã...naní...nanão... a índia Purí interveio. Eu farei o desenho. Já tenho tudim aqui na cabeça. Será assim ó (risc...risc...rabisc...risc). Quando vi o resultado dos risc...risc...rabisc...risc  que ela rabiscou, quascaí dicosta.
Tente imaginar uma caixa pequena enfiada na minha cabeça. Imaginou? Agora tente imaginar nessa caixa, dois buracos para que eu possa enxergar o ridículo e, abaixo, um corte na horizontal supostamente para que eu ao menos respire e não morra sufocado. Ok? Imaginou? Então, essa coisa linda seria o meu elmo. TÔ BÃO NÃO... e não ria.
Logo depois vinha a armadura que consistia numa caixa maior com dois buracos na parte de baixo para que eu pudesse enfiar os pés. Na verdade eu entro na caixa e puxo-a até a altura do meu peito e depois “infio” os braços por dois buracos que foram extraordinariamente e milimetricamente muito bem pensados. Legal, né? Coisa de índio mesmo...
Mateus vibrava... eu tremia... ela rabiscava mais alguma coisa.
_ E tem mais? Perguntei.
Mas a índia Purí parecia não conhecer todas as palavras do meu dialeto tupi-guarani, pois me ignorou e chamou a mãe (minha sogra) para ajudá-la na elaboração da próxima peça.
_ Mãe, a Senhora consegue costurar isso aqui, para colocar ali e juntar àquela outra parte?
Minha sogra, antes de responder, olhou toda condoída para mim. Eu tive dó do olhar de dó da minha sogra. TÔ BÃO NÃO. Era um olhar que quereria me dar uma “força” e foi como me dissesse: “aguente firme... você é forte... tudo vai acabar logo...”
Mateus estava mais serelepe ainda e falou:
_ Mãe... demorô, né. Deixa que eu faço uns desenhos na caixa? Vai ficar massa... Pai pode até ganhar o primeiro lugar da fantasia mais original... vai até sair na televisão! Sem sal prá caramba...
Eu não tinha mais cabelo para arrepiar quando ele falou em “televisão”TÔ BÃO NÃO... mas vai ficar PIOR.
Sei que já tomei muito do seu tempo com essa história toda, portanto vou abreviar e pular a parte da confecção da fantasia e da discussão que tive com ela por causa da Angelina Jolie (suspiro).
Noite do grito. Praça central de Cambuí. Música estrondosa.
Ô..lê..lê...  Ô..lá..lá... Todo mundo animado.
Ô jardineira purquetá tão triste... o que foi quitiaconteceu... Cantavam.
Sra. Abranches estava fantasiada de...  Purí. Isso mesmo, fantasiada de índia. Talvez fosse saudade de Mato Grosso, sei lá... ou para afirmar que ainda estava no comando da situação.
Eu? Procurava apenas não cair.
Andava como um cubo mágico. Balançava prá lá... balançava prá cá... e assim ia encaixando os passos (encaixando... essa foi boa!).
Meu campo de visão era bem limitado (só enxergava em linha reta) e dependia da cacique para me conduzir. Ví uma zebra passando pela minha frente, depois um Frankenstein acompanhado da Bela Adormecida. Ví só a ponta de um chapéu de elfo e imaginei um anão. Vi múmias, piratas, pierrôs, palhaços...todas fantasias originais. E eu lá... de Hômicaixa. Até o Lula tava lá.
Bom, até aí eu tinha conseguido dominar todas as 4 situações inesperadas (não cair, não largar a mão da Purí, dançar balançando o mínimo possível e não suar tanto para não amolecer a roupa do tonto do Hôm... cê sabe). TÔ BÃO NÃO.
Até que apareceu a 5ª situação inesperada. A catástrofe... o 5º Cavaleiro do Apocalipse (imaginava que fossem só 4). E como a natureza está sempre a favor da falha, principalmente se esse dia for uma segunda feira: choveu.
Menina... mas choveu bonito. Derrama água nessa chuva que ainda é pouco.
Foi um corre-corre, uma confusão dos diabos (ví dois correndo bem na minha frente), todos tentando ocupar o único espaço coberto: o páteo da igreja. Tinha tanta gente, mas tanta gente, que ali não cabia nem uma caixinha. Então sobrei.
E  você sabe muito bem no que dá a combinação de papelão + água, né? O trem foi amolecendo, se desfazendo... a fita adesiva que prendia a caixa no meu traseiro, soltou-se... e a coisa tava pra piorar. Até que veio a 6ª situação inesperada através de uma pergunta da brilhante carnavalesca:
_ Cê tá com uma roupa por baixo, num tá?
_ ....


Bom, sei que ficarei sem sair de casa por uns meses (ou até esquecerem o “papelão” do Hômicaixa)
TÔ BÃO NÃO. (risos)


Devo confessar que nem tudo que escrevi é verdade.
O meu gato Mimo, ao contrário do que escrevi, não está mais afônico.

Grande beijo no seu coração e que sua semana se inicie com muita alegria e seja ela  iluminada e de trabalho profícuo.
Õ[õ Jota-A

15 de fev. de 2012

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BOLSA "LÍVIA"
(uma combinação de E.V.A.  +  JUTA)


Depois de ficar tanto tempo sem produzir,

finalmente saiu alguma coisa...

Uma combinação de E.V.A. com JUTA.

Devo confessar que, particularmente,

 gostei do resultado.



Estas peças foram exibidas numa revista (Ed. Liberato)


que ganhei de presente da minha amiguíssima Lívia.


Designer e criação das peças foram assinadas 


e são creditadas ao artesão Francisco Bomfim, 


apenas as reproduzi.

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TÔ BÃO NÃO


(mesmo estando em CAMBUÍ-MG)



_Paiê... tô sem sal
_ Hã??!!

Assim começarei este meu insosso texto. "Sem sal".
Mas, para você entender melhor essa história de "sem sal", vou começar do melhor ponto: do início.
Estou em Cambuí.
 Agora sim, considerado o mais novo cidadão Cambuiense juntamente com a Sra. Abranches, nosso filho Mateus (o que fez a bombástica revelação de estar "sem sal"), do nosso cão Nick (ele que não gosta de ser chamado de cachorro; é cão!) e do gato Mino, que desde que aqui chegamos anda miando de forma muito estranha... algo que soa como um “meow”. Mas deixando de lado a sensibilidade e crise existencial do Nick e a disfasia do Mimo, voltemos ao nosso tempero principal (ou à falta dele, pois meu filho está "sem sal").
Mudança é mudança e isso não muda nunca.  Assim como segunda feira é segunda feira e isso também não mud... TÔ BÃO NÃO!!!
Comparo “mudança” a um caos desorganizado. A minha, pelo menos, estava um caos organizado. Tudo dentro de caixas... uma beleza! Todas as 147 juntinhas... lindo de ver! (suspiro)
Às vezes eu parava...  ficava olhando aquele mundaréu de caixas...  e passava a acreditar que jamais conseguiria fazer com que tudo voltasse à normalidade. Sonhei com elas (as caixas). Na primeira noite de “casa nova” dormi sobre uma delas... acho que foi por isso do sonho. Malditas caixas! Amanheci igualzinho a um pacote de biscoitos cream cracker: quadrado e crocante. Não sei de onde saída tantos "crec's" do meu empertigado corpo.
Enquanto a "feitora" Sra. Abranches comandava – como diria minha amiga Paula – este “escravo Isauro” com palavras de ordem do tipo: "Põe essa aqui, aquela lá, aqueloutra acolá...”, Mateus fazia incursões na vizinhança na tentativa de conquistar novos amigos. Conseguiu-os aos pares e, junto, veio com esse: _Paiê... tô sem sal!
Na dúvida, fui perguntar à feitora  Sra Abranches se ela lembrava de ter ou não temperado o filho. De chicote na mão ela não me respondeu; apenas apontou para a próxima caixa. "Essa, pro' quarto".
_ Mas filho... que história é essa de "sem sal"? Perguntei eu.
_ Ô pai, demorô... Os "guri" da rua me ensinaram. Eles falam "sem sal" para quase tudo... muito massa!
_??!!
Aí eu te faço uma pergunta: pode uma coisa dessas? Cê já passou por isso? Alguém da sua família já lhe disse estar “ sem sal”?
Mas olha, não se preocupe. Assim como acredito que você deva estar agora (mesmo após ler esta maravilhosa explicação do meu filho), eu também fiquei. Pasmo! “Demorei” para entender. A gente vai ficando velho com mais idade e vai tendo esse tipo de dificuldade mesmo... o entendimento é mais lento; demora. Mas, conversa vai...  conversa vem... aos poucos fui sovando a "massa".
"Sem sal" é, de fato, uma linguagem muito especial. Uma forma de se expressar positivamente. Entendi que sua utilização é para quando se quer dizer que algo é realmente verdadeiro, positivo, certo, autêntico. Mas também serve para dizer que a situação está sob controle, que tudo anda bem ou que está indo numa direção certa, etc... É massa! Demorei, mas achei muito massa!
Para mim as segundas feiras sempre foram um dia sem sal. Um diazinho sem vergonha de tão insosso que é. TÔ BÃO NÃO!
Mas agora, depois desse aprendizado em Cambuí, percebo que não poderei mais aplicar esta expressão para esse dia. Não sob essa forma de linguagem... porque esse miserável dia não tem nada de positivo, autêntico... e muito menos ouso dizer que tudo anda bem ou quiçá que alguma coisa tome a direção certa em plena segunda feira. TÔ BÃO NÃO!!!
É um dia “sem sal” no sentido de ser um dia destemperado, um dia sem sabor, insípido, enjoativo, insulso, desenxabido. Ô dia indigesto, sô. É como comer chuchu refogado. Sim, é isso mesmo... segunda feira é um panelaço de chuchu refogado, sem sal. Dia de berinjela mal cozida... sem sal. Ou outros dias da semana são quindins, brigadeiros, papos de anjo, pamonhas, pés de moleque, cural, tortas de maça...! Mas as segundas... TÔ BÃO NÃO.
Enquanto eu tentava retirar uma caixa do lugar, operação essa que a feit... que a Sra. Abranches disse que mais parecia uma luta de sumô entre eu e a pesada caixa e que só faltava eu usar o mawashi (aquele fio dental gigante, feito de tecido grosso, que é enrolado em volta da cintura do lutador e passa apertado pelo fiofó), fiquei ouvindo o Mateus. Eufórico, contava que alguns dos novos amigos iriam estudar na mesma escola que ele e, provavelmente, frequentariam a mesma sala.
_ É mesmo, filho? Quem são eles?  (me arrependi imediatamente após a pergunta)
_ Ah, é o Bolacha, o Cubú, o Espanta e o Girino. O Ganso, o Xereba e o Zé das Pernas estudam em outro colégio. O Jiló e o Morcego levaram pau; vão repetir o ano.
_ Mateus, mas esses... esses... esses teus novos amiguinhos, além de não terem nenhuma pitadinha de sal, não tem um nome? Inquiri eu...
_ Demorô, Pai. Sei não. Eles são chamados assim mesmo. Esse é o nome deles.
Pois é. Por aqui as pessoas carregam um apelido e muitas das vezes esquecem o próprio nome. Lembra do Chibil Inchadinho que relatei numa outra osasião? Na verdade era o Sr. Luis Gomes da Silva? E nem ele se lembrava mais disso?
Fiquei imaginando a professora fazendo a chamada. Odem alfabética, claro: “Aranha... (presente), Bacalhau... (presente), Baleia... (presente), Balico... (hoje num veio, fêssora), Burunga... (presente), Calango... (presente), Caixa-d’água... (furou... furou o pé fêssora, ausente), Lamparina... (presente), Mateus... Mateus? Que nome estranho!?... Peladim... (presente), Três Orelhas... (presente) e por aí vai. TÔ BÃO NÃO.
Recordo que cheguei a escrever sobre uma figura folclórica que conheci por aqui. O nome (apelido) dele é “Nô tipo”, lembra? O que estava na porta do cinema e tudo o que perguntava a ele a resposta era sempre a mesma.
 _ E aí? Tudo bem? 

_ Nô tipo...

_ Será que chove?

_ Nô tipo...
_ O filme de hoje é bão?
_ Nô tipo... e dá uma gargalhada que me deixa a dúvida se queria dizer que o filme era bom ou ruim.
Pois então, essa figura fantástica apresenta uma outra peculiaridade ainda mais extraordinária. Ele simplesmente “some” nas segundas feiras... Isso mesmo, desaparece. Ninguém sabe onde o “Nô Tipo” se esconde ou se infiltra. Chegou o fatídico dia? Poof! puf!... sumiu o hômi. Passei a gostar ainda mais desse cara. Um cara muito massa... e absolutamente SEM SAL.

TÔ BÃO NÃO.
Mas a prosa tá muita boa, mas preciso resolver uma questão urgente.
Sra. Abranches me informa que faltaram 2 caixas... na verdade eram 149. Ihhhh... agora a coisa ficou até doce....
Grande e saudoso beijo para você. Tenha uma semaninha de muita luz, alegrias e de  trabalho bastante profícuo.
Fique com Deus.