PESSOAS MAIS DO QUE ESPECIAIS...

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5 de mar. de 2012

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Hoje é seg... TÔ BÃO NÃO



Antes de iniciar a minha prosa segundafeirística, devo primeiro agradecer os votos de convalescença e pleno restabelecimento que recebi de cada de vocês durante o decorrer de toda a semana.
A todas o meu “muito obrigado”, de coração. E “cabrita”, nunca mais!
Certo é que algumas se enganaram (ou se empolgaram), chegando mesmo a enviar mensagens de conforto para a Sra. Abranches, com sentimentos de pesar... (calma, tô aqui ainda... vivím da Silva).
Vocês, apesar de terem se divertido muito com o meu ultimo infortúnio, são lindas, viu?
Bom, eis meu estado atual e o boletim médico:

 - já consigo andar sem o auxilio da muleta;


- das 3 costelas trincadas, duas já se solidificaram;


- a clavícula, onde inicialmente cogitava-se a introdução anterógrada de um pino, partindo da borda póstero-lateral do acrômio em direção à ela ( com isso evitando passar pela articulação acrômio-clalvicular), não será mais necessária. (Uuuuufa! me preocupava muito onde esse trem ia parar...) ;


- e, por fim, o meu pé direito (aquele que tentava em vão achar o freio da bicicleta cabrita), não andava bem, aliás, melhor dizendo, esse não andava era nada (hehehehe). Pobrema sério.


Faço aqui uma pausa para explicar a você, que está lendo isto agora e num tá entendendo nadica  de nada. Faizfavô, leia o último TÔ BÃO NÃO porque num vô explicar tudo de novo, tabão?

Bom, parei no pé, certo?
Poizintão... o dedão do meu pé direito estava quase coçando o calcanhar...  trem feio mesmo. E eu, mesmo dois dias depois do tombo com a cabrita, ainda cheirava a flores da “cesta de ouro”.
Sra. Abranches fez uma compressa, bemmmmmm devagar, de forma a desinchar o pé para que pudesse finalmente distinguir o que era dedo, o que era planta do pé, a unha e onde é que andava o calcanhar... coisdilôco! TÔ BÃO NÃO (mas távo pior!)
Uma vizinha - atenciosíssima por sinal - veio acudir.
Quando ela viu a cena, julgou que eu tivesse enfiado o pé na jaca... só depois de algumas explicações dadas pela Sra. Abranches é que ela foi entender que a “jaca” é que era o meu pé.
E ela, sempre na tentativa de ajudar -  super atenciosíssima por sinal - disse que um seu primo tinha um amigo, que conheceu um senhor, que morava perto de um alemão e que ele também teve o mesmo problema: um pé de jaca. Fez tratamento de todo jeito... fisioterapias... benzeduras... talecoisa, mas só conseguiu tirar o pé da jaca (ou a jaca do pé) com o Dr. Xú.
Dr. Xú, segundo ela, é um grande acupunturista chinês, de renome internacional (que nunca ouvi falar...) e que tinha uma clínica famosíssima (que também nunca ouvi falar...) em Pouso Alegre*. Atendia em Cambuí uma vez por semana. Dizia que as agulhas do Dr. Xú eram maravilhosas...
.                     (*)Pouso Alegre é uma grande cidade mineira e dista apenas 40Km de Cambuí.
Percebi que a Sra. Abranches dava atenção mais do que o normal para essa história do Dr. Xú (e isso lá é nome de médico???). Comecei a ficar preocupado... senti uma brisa suave a percorrer meu corpo... e tive um leve calafrio (se falar que isso é viadagem, sei não... vou até aí...).TÔ BÃO NÃO.
Mas o meu sexto sentido raramente me prega peças.
Sra. Abranches então pergunta para a Dna. Francisoréia (puxa... não era para citar o nome da vizinha... mas agora foi!)
_ Mas, Zoréia (assim ela é conhecida na rua), pelamordedeus, quando é que o Dr. Xú estará em Cambuí?

 - - PAUSA  NECESSÁRIA - -


Minina... vou te dizer uma coisa: antes mesmo de ouvir a resposta da Dna. Francisoréia, meu corpo foi novamente acometido por aquela viadagem brisa suave, que me fez rrêpiar tôdim, chegando inclusive a tremelujar a jaca do pé.
_ Dô’Noeme... ele atende toda SEGUNDA FEIRA!
Como diria minha Japinha do Coração (Lívia): “futa q fariu...!”
Sra. Abranches (a Dô’Noeme) disse que eu antes de desmaiar, comecei a ficar branco... branco... branco... mais branco do que perna de freira. TÔ BÃO NÃO.
Quando voltei ao normal (aliás normal acho nunca fui... hehehehe), mas já mais lúcido, percebi que Dô’noeme falava ao telefone. Marcava uma consulta com o Dr. Xú.
Minha linda, vou te dizer uma coisa. Convivo em companhia da Sra. Abranches já há muitos anos, a ponto de saber que quando ela me chama de “Senhor” a gente até que discute por mais algum tempo, antes de eu concordar com ela  (claro!). Agora... quando ela me chama de “Senhor João Abranches”, o melhor a fazer é falar num tom o mais suave possível e apenas responder: “Tabão môrzim...”.
Estava explicado.
A suave brisa que chegou até a minha nuca era “o” sinal e não “frescurite”. Odeio as S*&#@LN¥ D™ F€£¶µ. TÔ BÃO NÃO.
Gente, segunda feira é um dia tão fulêrim que quando ele termina eu sempre me pergunto se esse disgramado dia foi realmente necessário. E digo mais: nada, mas absolutamente nada do que acontece nesse mequetrefe dia é tão ruim, que não possa piorar. E se por algum delírio, você nesse dia estiver se sentindo bem, mantenha a calma e não se preocupe: passa logo, logo!
Segunda feira e desgraça seguem a famosa lei da atração. É como político e dinheiro público... se atraem, nuntemjeito! Como dezembro na Rede Globo e Roberto Carlos. É pimba!
Prá encurtar a conversa: chegou o dia.
Sra. Abranches me deixa em frente ao consultório do Dr. Xú, enquanto leva o Mateus até a escola. Na volta me pegaria no contório (gostei dessa...)
Eu e meu pé de jaca entramos...
Na porta envidraçada havia alguns caracteres em chinês (tinha um que parecia com alguém correndo... outro, com alguém sendo sufocado).
Logo abaixo dessa quimzomba, numa escrita muito bonita, a frase: “Mestre Acupunturista”.
Mais abaixo, em letras uniformes: “Acupuntura – Massagem Tui-Ná e Integração Craniossacral”
E por fim o nome do médico: Mestre Dr. Shêu Xú Léh.
Minina... se eu não tivesse ficado ali rindo tanto, teria tido tempo suficiente de pegar a minha jaca e sair de fininho mas, antes mesmo que pudesse me safar, a porta se abriu. Uma senhorita muito simpática, provavelmente uma Cambuiensse, me fez entrar.
O ambiente estava completamente tomado por fumaça. “Incenso”, pensei. Mas na dúvida tentei visualizar onde era a saída de incêndio... vai que...!
Mas era fumaça demais... para você ter uma idéia, tinha um quadro na parede que eu não conseguia distinguir se era uma mulher segurando uma bandeira ou se era uma criança montada num ganso.
_ Sinhô João Abrange? Perguntou.
_ Não... o meu nome correto é João ABRANCHES. Fiz a correção e tossi por causa da fumacêra.
_ Ah... midiscúpa. Sinhô Abranches, cê aguarda um pôquim?
_ Craro...tabão. Respondi para provocá-la.
Consegui localizar o sofá. Quando sentei, pareceu que ia me engulir. Me afundei nele.
Observei que haviam duas outras pessoas (pacientes?). Liam a revista “Caras” (sei por causa do formato e também certo de que todo consultório médico que se preze tem “Caras”) Coisdilôco... TÔ BÃO NÃO.
Tentei me distrair. Olhei para um dos pacientes. Era uma senhorinha que deveria ter uns 70 anos... não mais do que 90, isso eu garanto. Lia falando baixinho que parecia rezar. Rezei também, temendo as agulhas do Xú Léh, claro.
Observando-a mais atentamente, percebi que mantinha a revista de cabeça pr’a baixo... seu pobrema devia ser então com a vista (ou então rezava mesmo). Pensei: “Xú Léh vai pegar nus zói dela...” e me segurei para não rir. Para disfarçar, procurei fingir que tossia, mas acabei tossindo de verdade e custei a  parar. TÔ BÃO NÃO. Percebi, mesmo no meio do nevoeiro, que ela tinha os olhinhos miúdos e seus cabelos já estavam raleando no cocuruto.
O outro paciente esse sim, era careca quí nem’ieu. Um detalhe me chamou a atenção: em momento algum do tempo que ali permaneci, o vi virar a Cara. Quero dizer: virar a folha da revista Caras. Parecia que o hômi dormia olhando para a revista.
Antes que eu pudesse adivinhar “quem seriam” as duas exóticas figuras, a porta principal de acesso à sala do Dr. Xú Léh se abriu. Vislumbrei, no meio daquele fumacê todo, um senhor de corpo franzino, com uns braços enormes e desproporcionais ao resto do corpo esquelético. Era o Mestre Dr. Shêu Xú Léh.
_ Sinhô João Abrange... fáizfavô, Shêu Xú Léh já vai pegá no seu pé. Quando ela disse isso, me pareceu nitidamente que sustentava um sorriso meio sem vergonha no rosto.
Minha jaca no pé tremia como se fosse um pé de jaca durante um furioso temporal. Sei lá... senti que alguma desgraça estava pr’a acontecer, afinal, era uma segunda feira. TÔ BÃO NÃO.
Xú Léh foi levitando de volta para sua sala e o fumacê pareceu que o acompanhava como uma nuvem e que pairava sobre a sua cabeça. Entrei atrás, arrastando a jaca. Quando a neblina abaixou um pouco pude notar que a sala mais parecia a uma oficina. Eram instrumentos estranhos, com imagens do corpo humano impressos em papel de seda, impregnados de pontos vermelhos e azuis. Estes estavam fixos na parede.
Havia também um crânio (acho que era de resina... sei lá... mas também poderia ser verdadeiro...), todo pontilhado com marcações em vermelho e algumas agulhas enormes espetadas. Parecia um porco espinho.
Ele? Não disse uma palavra sequer; apenas indicou-me com aquele dedo enorme, preso a uma mão enorme, grudada num braço enorme num corpo pequeno, uma maca. Entendi que era para que eu me deitasse.
No meio daquele fog inglês ainda consegui perceber um movimento do Xú Léh, como se estivesse descascando uma banana... entendi que era para me despir (uai, sô...). Mas, como ele deixou parte da banana sem descascar, obviamente que não era para tirar toda a roupa. TÔ BÃO NÃO.
Estávamos nos comunicando perfeitamente.
Deitei e percebi a presença do Xú Léh no meu pé (ele pegou na minha jaca com uma mão gelaaaaada!). Nesse momento quase chutei o balde, tal a dor que senti.
A um outro sinal de sua mãozarrona (com a mão espalmada, rapidamente ele a vira para baixo), entendi que era para ficar de bruços... (hummmm.... fiquei preocupado e continuava a sentir o Xú Léh no meu pé)
Tentei me distrair e comecei a falar destrabeladamente... Tenho essa mania, sabe? Quando fico muito nervoso começo a falar besteira, uma atrás da outra. Daí eu relaxo.
Falei que achava interessante a medicina acupunturistica... (e ele enfia uma agulha na minha coxa...uuuui);
Que tinha lido muita coisa a seu respeito na internet... como resultado da consulta feito no Google, apareceram 23.326 indicações de Xú Léh. Muito Xú Léh na internet. (uiiiii... outra agulha na panturrilha...).
Disse que a sua simpática secretária errou meu sobrenome... (aaaaaai... agora uma na jaca...).
Que tinha adorado o seu agulheiro de crânio (uiuiui... na jaca, de novo...).
Que quase morri de rir observando dois pacientes muito esquisitos na sala de espera. Nesse momento Xú Léh pegou umas agulhas enormes, quase do tamanho de sua gigantesca mão... (ai..ui.uiuiui... uma na coxa e outra nas proximidades da região glútea). Fiquei alerta!
Que a doida “Senhorinha” mantinha nas mãos uma revista de cabeça para baixo, e parecia rezar como uma beata quase careca (foi quando Xú Léh enfiou uma daquelas agulhonas no meu lóbulo direito que parece senti o sangue escorrer... aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii).
Pensei em sair correndo... telepaticamente Xú Léh penetrou na minha mente e percebeu minha intenção. Num rápido e brusco movimento fechou a mão e manteve-a com os punhos cerrados... entendi perfeitamente o gesto: era p’rá ficar quieto.
Continuei a “conversar” com ele e disse que havia também um véio careca na recepção, muito mais feio do que eu, dormia e babava em cima de uma revista. Vislumbrei um torpedo em forma de mão avançando em direção do meu lóbulo esquerdo e senti uma queimação, parecendo que alguma erupção acontecia no meu ouvido. Nessas alturas já tinha esquecido a dor do pé de jaca. Xú Léh, sem piedade, “xuxou” a irmã gêmea da outra agulha e agora parecia que eu tinha dois piercing enormes de agulhas enfiado nas zorêia...
Nesse momento eu não agüentei...
Levantei apressadamente... arranquei a agulhas da coxa... da panturrilha... as que estavam na minha jaca e a na bunda e, já na porta de saída, perdi o controle e esbravejei:
_ Qualé, Xú Léh... devagar aí com esses espetos, uai.. TÔ BÃO NÃO, sô.
Com um olhar frio e calculista me olhou fixamente e tentou levitar para o meu lado...
_ Sai, Xú Léh. Gritei eu.
Então, pela primeira vez, comunicou-se verbalmente comigo:
_ A “Senhorinha” doida que está ali fora é minha mãe; o “véio careca” babão é meu pai... e vem cá que ainda faltam muitas “outras” agulhas que quero te enfiar...
Minina... saí apressadamente e consegui chegar até a rua. Sra. Abranches – prá variar – estava atrasada... ainda não tinha voltado e imaginei-a escolhendo algum sapato novo numa das lojas de Cambuí.
Comecei a andar. Num andar apressado arrastando o pé de jaca, com dois palitos enormes pendurado em cada orelha (que não consegui remover), descalço (minhas sandálias haviam ficado com Xú Léh), cheirando a incenso e com os olhos tão irritados pelo fumacê medonho que, de tão vermelhos, parecia que eu tinha feito alguma besteira. Nesse exato momento topo com dois rapazes, PUNK´s!
Um deles, com cabelos espetados para cima e dividido em três mechas - uma de cada cor - parecia uma arara...  e ainda cheio de argolas por todo o corpo. TÔ BÃO NÃO
O outro parecia o Neimar (jogador do Santos), só que mais feio. Com aquele cabelo estilo moicano, parecia carregar um leque na cabeça... vermelhão da cor dos meus olhos. E foi exatamente esse que me abordou.
_ Aê porkão... cê tá delta...degas no paraíso... manêro na escuta... onde cê fez parcêro? No porão?
Até agora não consegui decifrar exatamente o que ele quis dizer. Caso você entenda isso, por favor, me  escreva.
P” da vida, fiz aquele gesto... levantando o dêdim, sacuméquié?... exatamente no momento em que a Sra. Abranches encostava o carro ao meu lado e foi o tempo suficiente para que eu entrasse antes que a Arara e o Leque Vermelho me alcançassem... TÔ BÃO NÃO.
Não quero que se preocupe. Neste exato momento em que escrevo esta desgraça, meu pé tabão. Já não parece uma jaca... um pezím de seriguela, talvez. (risos)

Grande beijo no seu coração e tenhas uma semana alegre, de muita luz e trabalho bastante profícuo.

Fique com Deus.
õ[õJota-A